Augusto Celestino da Costa (1884-1956) foi uma personalidade de grande relevo no meio académico português, como cientista, pedagogo, organizador e promotor da ciência e como homem de elevado carácter e de enorme cultura. Catedrático de Histologia e Embriologia desde 1911, desenvolveu um laboratório na Faculdade de Medicina de Lisboa de nível europeu e rodeou-se de colaboradores competentes e entusiastas como Roberto Chaves, Magalhães Ramalho e Simões Raposo. Em 1919 organizou o serviço de análises clínicas dos Hospitais Civis; em 1929 era vice-presidente da Junta de Investigação Nacional e em 1934 foi designado seu presidente. Em 1931, Abel Salazar escrevia a Celestino da Costa afirmando-lhe “o dr. Celestino é um homem sempre novo, duma energia férrea, a quem se deve, praticamente, o pouco que entre nós já se faz em biologia”.
Para além de investigador de grande mérito foi um grande organizador e professor. Considerado um dos melhores embriologistas europeus do seu tempo, tinha um grande prestígio no meio académico de língua francesa, tendo organizado em Lisboa duas reuniões anuais da Association des Anatomistes, em 1933 e 1956. Celestino da Costa publicou centenas de artigos sobre a embriologia do sistema nervoso vegetativo, a histofisiologia das glândulas endócrinas e outros assuntos, tendo sido agraciado com uma distinção do governo francês em 1923. Abel Salazar afirmava que Celestino da Costa era “o ministro dos negócios estrangeiros da ciência portuguesa”. Celestino da Costa foi presidente da Junta Nacional de Educação (1934-36) e do Instituto para a Alta Cultura (1936-1942). Foi destituído por causa de um discurso que proferiu na Câmara de Lisboa depois de ter afirmado que Lisboa e não Coimbra era a capital cultural do país… Em represália, a Universidade de Coimbra ─ pela influência de Mário de Figueiredo, um professor de direito que ocupava então o lugar de ministro ─ conseguiu a destituição de Celestino da Costa da direcção da Faculdade de Medicina de Lisboa e da presidência do Instituto de Alta Cultura. Desta forma, a Universidade de Coimbra manifestou a sua grande influência política de efectivo apoio ao Estado Novo. Celestino da Costa foi substituído por Gustavo Cordeiro Ramos (1888-1974), professor de Literatura Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa, germanista e com fama de homossexual, causando uma péssima impressão na maioria da comunidade científica portuguesa. Amândio Tavares passou a ser o vice-presidente. Cordeiro Ramos tinha sido ministro da Instrução Pública (1930-1933), tendo criado, pelo decreto-lei 19 081 de 2 de Dezembro de 1930, a Universidade Técnica de Lisboa, uma iniciativa que, segundo ele próprio, “levantou grandes oposições, filhas de uma mentalidade acanhada e rotineira”. Devido a um suposto plágio do Fausto de Goethe, feito por Cordeiro Ramos e denunciado por Sant’Anna Dionisio, estabeleceu-se, em 1929, uma polémica entre estes dois homens nos jornais A Voz e a A Águia.
4 comments:
Prezado Luís Bernardo,
Desejava saber qual a fonte destas informações sobre Celestino da Costa.
Saudações cordiais,
Jorge Rezende
Caro Jorge Rezende,
As fontes são essencialmente as seguintes:
-I. Amaral, J. David-Ferreira, R. E. Pinto, A. Carneiro, A Escola de Investigação de Histofisiologia de Augusto Celestino da Costa (1911-1956), Actas do 1º Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência e da Técnica, Universidade de Évora, Évora, 2001, pp. 615-629.
-Abel Salazar, 96 Cartas a Celestino da Costa, ed. António Coimbra, Gradiva, Lisboa, 2006.
-A. Celestino da Costa, O Problema da Investigação Científica em Portugal, Coimbra, 1939.
Cordiais cumprimentos,
Luís Bernardo
Obrigado, Luís Bernardo.
Jorge
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