Alguns estudos recentes têm revelado que o quociente de inteligência (QI) de uma nação está correlacionado não só com a taxa do rendimento económico e o nível da educação, mas também com outros factores favoráveis: a elevada razão entre trabalho industrial e agrícola, temperaturas médias mais baixas, e até a maior distância à África que foi berço da humanidade. Estudos muito recentes mostram ainda que as boas condições de higiene e saúde favorecem o QI, o que explicaria os seus baixos valores nos países subdesenvolvidos. Feito o controlo dos factores acima referidos ─ como a temperatura média, a distância à África, o produto interno bruto per capita e vários factores relacionados com a educação ─ os factores mais influentes no grau de inteligência de uma nação parecem ser as doenças infecciosas. A explicação poderá ser de natureza fisiológica: a radicação de parasitas e de organismos patogénicos poderá atrasar o desenvolvimento do cérebro das crianças e limitar assim o seu desenvolvimento intelectual. Sob o ponto de vista energético, o ser humano teria dificuldade em construir um cérebro e lutar ao mesmo tempo contra as doenças infecciosas, visto que estas duas funções são metabolicamente muito exigentes.
Estes estudos revelam que existe uma diferenciação do nível intelectual por países ou regiões do globo cabendo às doenças infecciosas a principal responsabilidade para essa diferenciação. Assim, o aumento de inteligência média de países ricos verificado ao longo das décadas ─ o conhecido efeito de Flynn ─ poderia ser explicado pela crescente melhoria das suas condições de saúde. O controle de doenças infecciosas parece ter um papel fundamental no desenvolvimento social.
Até há algumas décadas, as condições higiénicas e sanitárias nas escolas portuguesas eram simplesmente lastimosas, apesar de Portugal ter sido um dos primeiros países a legislar em prol da defesa sanitária das escolas e dos escolares em 1842. Em 1888, denunciava-se na Revista Popular de Conhecimentos Uteis o facto de certos colégios, para meninos e meninas, se acharem “em locaes tão acanhados e inadequados que forçosamente devem influir na saude dos alumnos” e de “n’um espaço de oito a dez metros quadrados reunem durante seis horas 20 a 30 alumnos de tenra idade”. Até 1902, a legislação sanitária apenas se aplicava à construção dos novos edifícios escolares, mas não tinha qualquer influência na melhoria das condições sanitárias dos alunos. Com a reforma de 1902, da iniciativa de Ricardo Jorge e de Costa Sacadura, foi lançado um verdadeiro serviço de sanidade escolar que, no entanto, não foi compreendido nem apoiado por professores, pais e dirigentes escolares. Em Março de 1906 foram nomeados, como inspectores sanitários das 1ª e 2ª zonas liceais do Porto, os Drs. Aleixo Guerra e José Guilherme Pacheco de Miranda, mas em Junho de 1908, Sousa Avides denunciava as condições intoleráveis em que estavam a funcionar os liceus do Porto. Dizia que não tinham as mínimas condições de salubridade, particularmente o do 1ª zona, e renovava, por isso, a sua proposta de 1903 para que o parlamento ordenasse a construção de novos edifícios.
Fracassado, logo à nascença, o projecto de sanidade escolar de 1902, outros se lhe seguiram: um, em 1911, destinado aos liceus, e outro, em 1914, dirigido às escolas técnicas. Em 1916, fazia-se inspecção sanitária apenas nos liceus, embora se entendesse que deveria ser estendida pelos menos a todas as escolas primárias e profissionais médias. Em 1918, surgiu uma nova reforma mas, na opinião de António Paúl, apesar de todas as alterações legislativas “o Estado continuava a não dar a atenção devida ao serviço [sanitário], negando-lhe verbas e colaboradores em número suficiente”. Em 1933, o Estado Novo criou a Direcção Geral de Saúde Escolar que tomou a orientação da sanidade escolar, o que terá melhorado significativamente o apoio sanitário aos alunos das escolas portuguesas. Ao problema da cárie dentária não teria sido dada, no entanto, a atenção merecida, pelo menos até 1944. Desde há 30 ou 40 anos as condições higiénicas das escolas portuguesas melhoraram significativamente e, se outros factores não tiverem entretanto piorado, terá também aumentado a capacidade intelectual da juventude portuguesa.
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