Saturday, March 29, 2008

Impostos, Economia, Física e Ministros

O anúncio recente da diminuição do IVA de 21 para 20%, aplicável a partir de Julho, deu origem a opiniões contraditórias sobre o impacto que esta medida irá ter na economia portuguesa, em particular, na diminuição dos preços. O ministro da economia afirmou que teria um impacto positivo; alguns sectores da oposição (incluindo o seu líder) e o próprio presidente da AEP afirmaram que o impacto seria irrelevante.

Para “destroçar” as opiniões contrárias, o senhor ministro da economia veio afirmar a incoerência do líder da oposição e do presidente da AEP, porque, no passado, quando o IVA aumentou 2% consideraram que era uma má medida para a economia e, agora, com o anúncio da diminuição do imposto de 1% atrevem-se a afirmar que não terá qualquer efeito benéfico. Na opinião do senhor ministro ─ se é que posso seguir o seu raciocínio ─ esta diminuição teria 50% de benefício ao ser comparada com os 100% de malefício atribuído à subida do imposto de 2%. Para o ministro as coisas económicas são muito simples e tão lineares como isto… Perante evidência tão flagrante, o ministro concluia o seu discurso afirmando que as críticas, para além de incoerentes, eram evidentemente fruto de uma clara desonestidade intelectual; noutras palavras, o líder da oposição e o presidente da AEP não eram intelectualmente sérios.

Sou físico e nada percebo de economia, mas certamente que os modelos económicos devem ser bastante mais complexos do que o modelo em que o senhor ministro baseou o seu raciocínio. Qualquer físico principiante sabe que há muitos fenómenos físicos que apresentam comportamentos de histerese (não confundir com histeria!…), seguindo uma curva à subida e outra, distinta, à descida. É o caso da indução magnética em materiais ferromagnéticos que surge como reacção à presença de um campo magnético. Ao magnetizarmos o ferro, por exemplo, a magnetização deste aumenta bastante com o aumento do campo magnético aplicado, mas pode diminui bastante menos quando esse campo é reduzido da mesma quantidade. Noutras palavras, o ferro tenta manter a magnetização embora o campo magnético de excitação diminua.

Não é de espantar que na economia ocorram fenómenos semelhantes. Em economias de mercado, onde a inflação negativa praticamente não existe, será assim tão anormal que uma subida de impostos de 2% leve a uma significativa subida de preços e que uma descida de impostos de 1% em nada altere, na prática, esses preços?
Para um físico é perfeitamente natural; para um economista deve ser possível (julgo eu!... que nada sei de economia …); mas para um ministro da economia (que se afirma intelectualmente honesto) parece não ser possível ou pelo menos a probabilidade de o ser tende para zero!..
Sempre desconfiei de ministros que chamam aos que dele discordam “intelectualmente desonestos”, sobretudo aqueles ministros que revelam nada saber de física nem das leis básicas do comportamento da natureza e das sociedades…
É da responsabilidade do governo, a que este ministro da economia pertence, ter reduzido os estudos de física no secundário à sua mínima expressão. Parece que este governo não quer que os portugueses saibam física. Com esta política educativa contra a física, pretenderá o governo que os eleitores da próxima geração pensem todos segundo os modelos “intelectualmente honestos” deste ministro ou de um outro futuro ministro ainda mais competente?

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