Sunday, December 23, 2007

A Fé e a Ciência


Acreditar ou não acreditar é uma liberdade e, aparentemente, uma necessidade de todos os homens. Os nossos objectos de fé tomam os mais variados matizes e incluem tanto questões de carácter natural como sobrenatural: as primeiras são predominantemente objecto das ciências, as segundas das religiões.
São muito populares as crenças em Deus ou no Diabo, nos extraterrestres, nas ondas telepáticas, nas viagens no tempo, ou nas super-cordas … As enormes diferenças entre estes tipos de crenças podem classificar-se, no entanto, em termos de perenidade ou caducidade.
Uma teoria científica em fase de desenvolvimento e de comprovação experimental é motivo de fé para os cientistas que nela trabalham. Mas quando a teoria é efectivamente testada, a fé dos cientistas esfuma-se e transforma-se em verdade ou erro. O objecto de fé desaparece para dar lugar a outro e os cientistas iniciam nova peregrinação com renovada fé. É por meio deste processo dinâmico que a ciência evolui: uma fé transitória transforma-se em verdade supostamente perene, outros motivos de fé surgem para serem mais tarde abandonados na roda da fortuna…
A fé do sobrenatural, e em particular a fé religiosa, rege-se por regras distintas. Tal como a religião, a fé religiosa é estática. Os dogmas de fé são imutáveis. Nenhum dogma de fé religioso é validável racional ou cientificamente e qualquer tentativa nesse sentido acaba no ridículo.
Não deixa de ser admirável que um cientista possa abraçar estes dois tipos de fé ─ a científica e a religiosa ─ e consiga mantê-las em perfeita comunhão. Até ao século XX, quando todos os cientistas tinham uma religião, foram inumeráveis estes exemplos. O caso de Michael Faraday (1791-1867) é paradigmático: “quando entrava no oratório esquecia totalmente o laboratório”. Nos nossos tempos, porém, muitos cientistas foram incapazes de conciliar estas duas espécies de fé. Actualmente, é comum encontrar cientistas que declaram o seu ateísmo ou agnosticismo, o que parece ser uma atitude intelectual mais coerente, ou talvez não … de acordo com a fé religiosa!

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