Saturday, December 15, 2007

As experiências de Bernarr Macfadden no Estoril


Em 1931, Bernard Adolphus Mcfadden (1868-1955) ─ o mediático promotor da educação física e do culturismo americano que adoptou o “forte” nome Bernarr Macfadden ─ realizou em Portugal, mais concretamente no Estoril, um programa experimental de 6 meses com 50 crianças, entre os 8 e 12 anos, “dos asilos da Assistência Pública” com o objectivo de “demonstrar a eficácia de uma diatética cientificamente regulada” e “do seu método de cultura física”.
Para isso teve o apoio da Junta de Educação Nacional (JEN), que obteve do Ministério da Guerra a cedência do edifício do Banhos da Poça e que destacou uma professora oficial do Ministério da Instrução Pública para acompanhar as crianças. Todas as restantes despesas ficaram a cargo do benemérito e multimilionário americano. O projecto tinha sido previamente acordado entre Bernarr Macfadden e um representante da JEN, o Dr. Fernando Lobo de Ávila Lima, que se deslocou propositadamente a Nova Iorque gastando dos cofres da JEN a quantia de 6.000$00 em despesas de viagem.
A actividade de Macfedden em Portugal, e também na Suiça, integrava-se num programa de lançamento da sua Fundação que era apoiada por uma fortuna de 5 milhões de dólares suportada pelo imobiliário e publicações periódicas (incluindo um tablóide nova-iorquino pornográfico).
Na inauguração da “colónia” juvenil portuguesa a 12 de Novembro de 1931, o Secretário Geral da JEN pronunciou um discurso de boas vindas ao Sr. Macfadden, elogiando “o seu elevado exemplo de filantropia” combinado com “o mais magnificente exemplo de nobreza moral”. Agradecia reconhecidamente ao Sr. Macfadden o ter escolhido o nosso país para as suas experiências e lembrava que a JEN ─ na sua nobre missão de “elevar o carácter dos portugueses e de promover a melhor reorganização e o aperfeiçoamento progressivo de todos os métodos de educação intelectual, moral e física”─ estaria disponível para colaborar noutras experiências pedagógicas semelhantes.
Qual seria o método do Sr. Macfedden? Das palavras do Secretário Geral da Junta poder-se-á concluir que nem este responsável sabia:
O Sr. Macfadden e os seus colegas [o Dr. Clington e o Sr. De Vitalis] vão tentar um novo método de educação, vão aplicar este método a um grupo de crianças e só depois de os resultados obtidos lhes terem dado a contraprova real do seu valor, é que eles nos explicarão em que é que consiste realmente o método, como funciona e como deveria ser aplicado.
Talvez a revelação do método e os resultados “muito satisfatórios” que o Secretário Geral da JEN dava como certos, se encontrem no livro que Thomas Dixon publicou em 1934. Não deixa, porém, de ser preocupante que o Estado Português tivesse confiado 50 crianças “pobres e débeis” ao Sr. Macfadden, cujos métodos, baseados em jejuns e exercícios físicos, eram contestados pelos seus contemporâneos.

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