Monday, October 8, 2007

A libertação mental do homem e o nascimento da ciência moderna


Uma das questões mais interessantes da História da Ciência está relacionada com as causas conducentes ao aparecimento da ciência moderna na Europa. Pergunta-se porque razão a ciência não surgiu no seio de nações, como a China e a Índia, que tinham graus de desenvolvimento social, cultural e económico semelhantes aos da Europa?
O regime de opressão mental imposto pelos poderes religiosos, civis e militares foi durante séculos semelhante em todas as nações tanto europeias como orientais. Noutras palavras, durante séculos não houve lugar para novas ideias. O pensamento estava agrilhoado não só pelo medo mas também pela inércia. A estabilidade era um bem precioso para os poderes estabelecidos. Não havia necessidade de procurar novas explicações porque, fundamentalmente, tudo estava explicado. Tudo o que os nossos sentidos experimentavam já tinha sido objecto da reflexão de homens ilustres, que nos tinham legado as suas sábias conclusões.
Nos séculos XV e XVI ocorreu na Europa ocidental um movimento político-económico de enormes precursões ─ os Descobrimentos ─ que pôs o homem europeu em contacto com realidades que não faziam parte da experiência nem do conhecimento dos mestres antigos. Novos céus e estrelas foram observados; mares totalmente novos, navegados; nações e civilizações ignotas, encontradas; novas formas de animais e plantas contempladas com pasmo e incredibilidade. Começou a pensar-se que, afinal, o mundo era maior, mais complexo e mais diversificado; que o conhecimento não cabia no pequeno baú preparado pelos mestres antigos; que se desconhecia muito mais do que aquilo que se conhecia. Perante esta avassaladora experiência, a mente do homem europeu começou a libertar-se da opressão e da inércia e atreveu-se a desbravar terrenos inexplorados, tendo surgido novas ferramentas para a busca da verdade. Libertada, a mente humana tornou-se imparável; estimulada, a imaginação irrompeu por áreas obscuras. A ciência de Galileu e Newton acabou naturalmente por surgir…
A libertação mental do homem não só esteve na origem da ciência moderna mas também foi imprescindível para o seu desenvolvimento. Portugal e Espanha, que foram os pioneiros dos Descobrimentos, cedo sacrificaram a liberdade mental a um auto-imposto regime de terror inquisitório. Novamente atrofiada a liberdade de pensar, nem portugueses nem espanhóis conseguiram liderar o movimento científico. Pior, não conseguiram sequer acompanhá-lo. A ciência moderna, desenvolvida na Europa mentalmente libertada, passou-nos ao lado durante o século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII.
Cento e cinquenta anos de desinteresse nacional pela ciência foi fardo demasiado pesado de que os portugueses não conseguiram libertar-se na Reforma Pombalina, no período liberal da segunda metade do séc. XIX, nos anos de 1960, nem sequer nos nossos dias… O país continua a achar que a ciência nacional é uma actividade de valor menor e portanto uma actividade dispensável. A propaganda política ─ diga-se ─ esforça-se por apregoar o contrário, mas efectivamente pouco faz para alterar a realidade…

No comments: