Tuesday, October 2, 2007

O bicentenário das invasões napoleónicas: pilhagens dos soldados franceses


Há 200 anos, o general francês Junot invadiu Portugal à frente de um exército, instalou-se em Lisboa e iniciou um governo napoleónico tomando o modesto título nobiliárquico de duque de Abrantes. A história da invasão e retirada deste primeiro exército foi escrita por um dos auxiliares de Junot, o tenente-general e barão Thiébault, tendo sido publicada em 1817 com o título Relation de l’expédition du Portugal, faite en 1807 et 1808 par le Ier corps d’observation de la Gironde, devenue armée de Portugal. Para além de todas as peripécias da caminhada, esta obra revela-nos um Portugal pobre, conformado, desorganizado e abandonado à sua sorte pelo próprio rei D. João VI.
Com o fim desta primeira invasão, no ano seguinte, outras se lhe seguiram e, durante anos, o nosso país esteve mergulhado numa crise social e institucional profunda. Os soldados franceses enquanto ocuparam o país furtaram objectos que eram muitas vezes vendidos logo de seguida para fazer dinheiro. Outros objectos mais valiosos foram, no entanto, pilhados com o objectivo de seguirem para Paris. Entre eles encontravam-se instrumentos científicos que, na época, abundavam em França, mas que os militares acharam oportuno retirar das mãos dos portugueses.
Do Gabinete de Física Experimental da Universidade de Coimbra foram saqueados pelas tropas do marechal Massena instrumentos ─ que tinham sido comprados a fabricantes londrinos como William e Samuel Jones ─ entre os quais um óculo astronómico, um óculo de Galileu e dois microscópios, avaliados na época em 62 mil e 400 réis. Segundo relata Costa Lobo, do Observatório Astronómico da Universidade Napoleão desejou ainda possuir uma pêndula Berthoud, de grande valor, que até chegou a estar empacotada para seguir para França.
Os instrumentos científicos não eram naturalmente as únicas peças valiosas que despertavam a cobiça dos invasores. Diz-se que muito ouro e prata, bem como valiosos manuscritos com iluminuras da autoria de monges portugueses acompanharam os soldados na sua retirada. A este propósito, Celestino Borges escreveu em 1951 o seguinte:
É rico o espólio que nos resta, disperso por museus e arquivos, e não pouco se perdeu nas invasões francesas, arrastado na voragem vandálica e bruta dos soldados, que não contentes com roubar manuscritos inteiros, que figuraram mais tarde em exposições de Paris, cortaram-lhes as folhas para abaixa-luzes de candieiros.
As guerras alimentaram-se sempre de pilhagens, tanto nas épocas bárbaras como nas épocas a que chamamos civilizadas. As pilhagens foram também sistematicamente praticadas pelos soldados portugueses nos períodos heróicos das conquistas …

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