Monday, August 27, 2007

O estudo da Física experimental em Portugal


Só muito depois do surgimento das ciências modernas, é que os portugueses tiveram oportunidade de poder estudar no seu país estas matérias. Quem, na primeira metade do século XVIII, pretendesse estudar Física experimental ─ assim era designada a nova Física ─ ou se limitava a assuntos muito elementares, dados nos colégios oratorianos, ou, para obter conhecimentos mais profundos, tinha que se ausentar para além dos Pirinéus. É isto que nos revela uma carta escrita pelo frade franciscano Giovanni Vincenzo Antonio Ganganelli (1705-1774) dirigida a Furtado de Mendonça, a viver no Rio de Janeiro, e assinada no Convento dos Santos Apóstolos de Roma, em 10 de Janeiro de 1758.
Furtado de Mendonça teria escrito ao erudito franciscano pedindo-lhe um conselho sobre a maneira de melhor educar o filho que mostrava ter uma grande inclinação para a Física. Pelo teor da resposta, o nobre português teria certamente perguntado ao frade italiano se deveria enviar o filho para Paris como, aliás, lhe teria já recomendado um aio.
Frei Ganganelli, que seria eleito papa em 1769 com o nome de Clemente XIV, escreveu o seguinte a meio da missiva:

V. Excellencia me adverte, que ao presente apenas há huma mera possibilidade para introduzir nesse paiz [Brasil] a verdadeira Theologia, a Tactica, e as Mathematicas. Eu o creio, e discorrendo pelo que passa em Portugal posso assentar, que essa colonia deve estar bem pouco adiantada. Eia pois, Senhor, faça V. Excellencia passar seu filho á França; e como elle tem disposições para a Fisica, achará alli com que a cultivar pelas lições do celebre Nollet. Eu sei por meio de Italianos a qualidade de acolhimento, que faz aos estrangeiros este sabio Fisico, o qual não deixará de receber com o mesmo agrado a hum Brasiliense, que leva consigo hum grande nome, e que deseja honrallo. V. Excellencia póde dar-lhe, e fazer-lhe dar cartas de recommendação para Sua Excellencia, M. de Sousa, e isto he mais que bastante para não carecer de meios de se instruir, e de prosperar seu desejo. Suas noções de Algebra lhe serão uteis; e quanto menos elle for novo nas sciencias, tanto maiores progressos fará nellas, assistindo no lugar do mundo, em que ellas se cultivão com mais fructo.

Foram sensatos estes conselhos de Fr. Ganganelli, um ano antes da expulsão dos jesuítas (1759) de todo o território nacional. Esta Ordem religiosa dominava o ensino português e, particularmente, o brasileiro, e não era sua prática ensinar as novas ciências. O mesmo se passava na Universidade de Coimbra que se regia por estatutos antiquados, condicionados à teologia e à filosofia escolástica. Este estado de coisas era muito criticado pelos “estrangeirados”, como António de Verney, que, nos seus escritos, apresentavam soluções concretas para resolver o atraso da educação portuguesa.

Com a ajuda destes homens, o Marquês de Pombal, reformou o ensino pré-universitário, criou o Colégio do Nobres (1766) e reformou a Universidade (1772). Porém, o ensino da Física moderna iniciou-se apressada e atabalhoadamente, com bases muito pouco sólidas. Religiosos reconvertidos e um ou dois lentes especialmente contratados não chegaram para concretizar eficazmente a revolução pombalina. Por causa de intrigas ou por outras razões, o livro De Re Physica de Luís António Verney nunca foi adoptado como livro oficial como era a expectativa do autor quando o publicou. A Física nunca foi uma ciência que tivesse entusiasmado os jovens estudantes, até hoje…

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