Num serão do Clube Literário do Porto, em 12 de Julho, teve lugar uma tertúlia à volta de um livro publicado pela Editora da Universidade do Porto intitulado Histórias da Luz e das Cores. Nessa tertúlia esteve presente o professor Carlos Fiolhais que muitos consideram justamente “o mais mediático” físico português. Os seus artigos de jornal, os livros que tem publicado e as intervenções que tem feito na televisão, na rádio e na internet têm tido um significativo impacto social e têm feito dele o mais consistente divulgador da física e da ciência em Portugal.
No decorrer da tertúlia, admiraram-se os presentes quando Carlos Fiolhais revelou, pela leitura de um texto do referido livro, que o conde Francesco Algarotti (1712-1764), homem muito viajado, descreveu Lisboa “como uma cidade de óculos e de mendigos”. Desta forma metafórica, o conde italiano revelava aos seus leitores duas qualidades bem portuguesas: a preguiça ─ visto que muitos dos esmoleiros podiam perfeitamente trabalhar ─ e a vaidade, já que a maioria dos “gafados” usavam óculos só para dar ares de intelectualidade …
No decorrer da tertúlia, admiraram-se os presentes quando Carlos Fiolhais revelou, pela leitura de um texto do referido livro, que o conde Francesco Algarotti (1712-1764), homem muito viajado, descreveu Lisboa “como uma cidade de óculos e de mendigos”. Desta forma metafórica, o conde italiano revelava aos seus leitores duas qualidades bem portuguesas: a preguiça ─ visto que muitos dos esmoleiros podiam perfeitamente trabalhar ─ e a vaidade, já que a maioria dos “gafados” usavam óculos só para dar ares de intelectualidade …
A mendicidade foi “moda” que se instalou em Portugal a partir do séc. XIV. Foi abençoada pela prática mendicante de frades e rapidamente foi imitada com proveito por oportunistas sem qualquer vontade de trabalhar. Num artigo publicado no Archivo Historico Portuguez de 1916, intitulado Majestade e Grandezas de Lisboa em 1552, Gomes de Brito revela que havia desde o século XIV um grande número de mendigos em Lisboa. Pedia-se esmola “pelas alminhas”, para as almas, santas e santos, resgates, beatificações, confrarias, igrejas, conventos e festas … ou porque se era doente, coxo, cego ou aleijado. Revoadas de maltrapilhos invadiam a cidade pela manhã, calcorreavam os lugares estratégicos, batiam às portas, gemiam nas ruas, perseguiam os transeuntes e, no fim do dia, desapareciam na escuridão para reaparecerem no dia seguinte e começarem tudo de novo.
Comprovada a caridade esmoler dos bons cristãos lusitanos, o número de pedintes engrossava todos os dias, ano após ano, geração após geração. Nos séculos XV e XVI, foi necessário criar medidas e leis para controlar a mendicidade que já começava a incomodar seriamente toda a gente. De acordo com Gomes de Brito, em 1552 tinha “ a cidade [de Lisboa] mil homens e molheres pobres, que amdão pela çidade pedindo esmola, e temno por oficio, que tirã muito dinheiro para suas mãtenças“… mas havia quem avaliasse o seu número em quatro mil. Em 1604 e 1760, o número de pedintes cresceu de tal forma que foi necessário promulgar de novo as leis antigas que proibiam a mendicidade, mas que ninguém cumpria... Os peditórios continuariam porém a ser permitidos, tal como no passado, apenas em situações excepcionais em que o confrade, o doente ou o estropiado comprovassem a necessidade absoluta de esmolar.
Comprovada a caridade esmoler dos bons cristãos lusitanos, o número de pedintes engrossava todos os dias, ano após ano, geração após geração. Nos séculos XV e XVI, foi necessário criar medidas e leis para controlar a mendicidade que já começava a incomodar seriamente toda a gente. De acordo com Gomes de Brito, em 1552 tinha “ a cidade [de Lisboa] mil homens e molheres pobres, que amdão pela çidade pedindo esmola, e temno por oficio, que tirã muito dinheiro para suas mãtenças“… mas havia quem avaliasse o seu número em quatro mil. Em 1604 e 1760, o número de pedintes cresceu de tal forma que foi necessário promulgar de novo as leis antigas que proibiam a mendicidade, mas que ninguém cumpria... Os peditórios continuariam porém a ser permitidos, tal como no passado, apenas em situações excepcionais em que o confrade, o doente ou o estropiado comprovassem a necessidade absoluta de esmolar.
Sobre a outra singularidade lisboeta relatada pelo conde Algarotti ─ a praga dos óculos ou das “gafas”─ o melhor é mesmo ler as páginas 518 e 519 do 1º volume das Histórias da Luz e das Cores … Acrescentaremos apenas que tanto se valorizou em Portugal o estatuto social dos óculos que o conseguimos exportar para outras culturas com elevado sucesso, o que foi sublinhado por Eça de Queiroz em Os Maias:
É o que sucede com os pretos já corrompidos de São Tomé, que vêem os europeus de lunetas ─ e imaginam que nisso consiste ser civilizado e ser branco. Que fazem então? Na sua sofreguidão de progresso e de brancura, acavalam no nariz três ou quatro lunetas, claras, defumadas, até de cor. E assim andam pela cidade, de tanga, de nariz no ar, aos tropeções, no desesperado e angustioso esforço de equilibrarem todos estes vidros ─ para serem imensamente civilizados e imensamente brancos...
Há sempre imitações tão boas ou melhores do que os originais !…
Não sei se a aversão dos portugueses à actividade laboral teve imitações noutras paragens por onde andámos, ou se ela era autóctone … A verdade porém é que, em países lusófonos, os valores do trabalho também não são muito apreciados, lá tal como cá.
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