No reinado de D. João III, a Universidade de Coimbra teve um conjunto de professores, portugueses e estrangeiros, de elevada craveira intelectual ─ teólogos, legistas, canonistas, médicos, matemáticos, cosmógrafos, humanistas, cultores de línguas como o grego, o latim e o hebraico ─ que ensinavam um elevado número de estudantes provenientes de toda a parte. Frei Heitor Pinto referiu-se com entusiasmo ao ambiente cultural de Coimbra desta época elogiando a acção impulsionadora de D. João III:
Trabalhã cõmũmente os homens por se esmerar naquellas cousas, a vêem os prĩcipes ĩnclinados & affeyçoados, & em que elles põem os olhos pêra as louuar & fauorecer. D’isto temos experiencia manifesta em Portugal, onde nũnca ouue tãtos letrados, nem tam excellentes, como em tempo do sereníssimo rey dõ Iohão o terceyro d’este nome, que fez a vniuersidade de Coimbra hũa das principaes de toda Europa: pera õde trouxe os principaes mestres & letrados, que auia no mundo. Não se contentou somente, com os que auia em seu reyno, mas alem d’elles mandou vir outros de Salamanca, & Alcala, & Paris, & Bordeos, & Frãdes, & Italia, & Alemanha. Finalmente encheo a vniuersidade das milhores & mais insinhes letras em todas as faculdades, que auia em seu tempo: & ennobreceo seu reyno de todo o genero de boas artes & sciencias, & felo hũa rica feyra vniuersal de todas as excellentes doctrinas, & enriqueceo o de virtudes, que em seu tempo summamente floresceram, & amou a doce paz, & em seu reyno fechou as portas de Iano, & foy pay da patria, & zelador da fe de Christo, & da sancta religião.
As ciências a que particularmente se refere Frei Heitor Pinto são aquelas que nos dão a “verdadeyra sabedoria per cujo meo alcancemos a eterna bem-aventurança” … Mas também as humanidades, a matemática, a medicina, a filosofia e as ciências práticas (geografia, cartografia e náutica) foram cultivadas entre nós no século XVI.
Na literatura distinguiu-se Francisco de Sá de Miranda (1481-1558) que lia Homero na língua original. Segundo Joaquim de Carvalho, notabilizaram-se ainda pelo conhecimento da língua grega os poetas João Rodrigues de Sá e Menezes (1464/61?-1576/79?) e António Ferreira ( 1528-1569), o médico Ambrósio Nunes (1529-1611), Francisco Giraldes, Jerónimo Lopes, o médico João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano) (1511-1568) , o latinista Jorge Coelho (?-1563), D. Frei António de Sousa (?-1597), o médico, humanista e filósofo António Luís (?-1565) e outros. André de Resende (1500?-1573) foi um ilustre humanista e Damião de Góis (1502-1574), conhecido e muito respeitado pelos intelectuais europeus, foi o mais destacado renascentista português.
Pedro Nunes (1502-1578) foi o matemático português mais ilustre do século XVI, tendo granjeado o respeito dos seus colegas europeus. D. João de Castro (1500-1548) é talvez o mais importante dos nossos homens de ciência natural do século XVI, sendo mesmo considerado pioneiro no estudo do magnetismo terrestre. Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), herói militar, foi igualmente navegador e cosmógrafo.
A medicina teve um grande número de ilustres praticantes e estudiosos. Garcia de Orta (1501/2-1568) ganhou nome na Europa com os Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, uma obra que foi traduzida para Latim, Italiano e Francês. Outros médicos como António Luís (?-1565), Amato Lusitano, Rodrigo de Castro (1546-1628), Luís de Lemos, Manuel Brudo, Filipe Montalto (?-1616), Rodrigo da Fonseca (?-1622), Francisco Sanches (1550-1622) e mais tarde Zacuto Lusitano (1575-1640) distinguiram-se e foram conhecidos em toda a Europa. Com a sua prática, ensinamentos e escritos, deram uma contribuição valiosa para a ciência médica do seu tempo. Pela ligação directa ou indirecta que tiveram com o judaísmo, muitos destes médicos viveram expatriados devido às perseguições movidas pela Inquisição, instituição de má memória estabelecida em Portugal, no ano de 1536, pelo próprio D. João III.
Como comentador da Física de Aristóteles distinguiu-se em Paris João Ribeiro em 1525, acabando por conseguir em 1527 a cátedra de Lógica na Universidade que estava sedeada nessa época em Lisboa. Na filosofia, sobressaiu o já referido Francisco Sanches que adquiriu toda a sua formação fora da Península em particular na Itália e em França. Autor de Quod nihil scitur (Que nada se sabe), Francisco Sanches foi o introdutor da dúvida como método e propedêutica da filosofia. Em lógica, física, cosmografia e ciências afins, brilhou Pedro Margalho (?-1556) em Salamanca, nos princípios do século XVI. Nas questões da navegação distinguiram-se vários matemáticos e outros homens com conhecimentos de matemática: o infante cardeal D. Henrique (1512-1580) e infante D. Luis (1506-1555), D. João de Castro (1500-1548) ─ todos eles alunos de Pedro Nunes ─ Frei Nicolau Coelho de Amaral (?-1568), João de Barros (1496?-1570), Martin Afonso de Sousa (1500-1571), Diogo Botelho Pereira, o Pe. António de Castelo Branco (1556-1643), Diogo de Sá e Fernando Alvares Seco, entre outros.
No século XVI, houve mais de cem professores portugueses a ensinar em universidades europeias, entre as quais se contam as de Salamanca, Paris, Roma, Pisa e Lovaina. A partir do último quartel do século XVI o panorama cultural português degradou-se bruscamente. Com a perda da independência, Portugal entrava definitivamente num período de decadência cultural, enquanto que, fora da Península, se iniciava uma nova fase do desenvolvimento das ciências matemáticas e naturais com o surgimento da ciência moderna. Protagonistas da transição entre a ciência antiga e a moderna, os portugueses não souberam ou não quiseram prosseguir na senda do progresso científico. Nos inúmeros escritos que se publicaram e nas muitas conferências que se proferiram entre nós, várias foram as causas apontadas para a decadência que ainda hoje nos condiciona. Passados quatro séculos, não foi possível recriar as condições para que Portugal se possa distinguir de novo entre as nações cultural e cientificamente mais desenvolvidas. As perspectivas de mudança continuam sombrias …
Na literatura distinguiu-se Francisco de Sá de Miranda (1481-1558) que lia Homero na língua original. Segundo Joaquim de Carvalho, notabilizaram-se ainda pelo conhecimento da língua grega os poetas João Rodrigues de Sá e Menezes (1464/61?-1576/79?) e António Ferreira ( 1528-1569), o médico Ambrósio Nunes (1529-1611), Francisco Giraldes, Jerónimo Lopes, o médico João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano) (1511-1568) , o latinista Jorge Coelho (?-1563), D. Frei António de Sousa (?-1597), o médico, humanista e filósofo António Luís (?-1565) e outros. André de Resende (1500?-1573) foi um ilustre humanista e Damião de Góis (1502-1574), conhecido e muito respeitado pelos intelectuais europeus, foi o mais destacado renascentista português.
Pedro Nunes (1502-1578) foi o matemático português mais ilustre do século XVI, tendo granjeado o respeito dos seus colegas europeus. D. João de Castro (1500-1548) é talvez o mais importante dos nossos homens de ciência natural do século XVI, sendo mesmo considerado pioneiro no estudo do magnetismo terrestre. Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), herói militar, foi igualmente navegador e cosmógrafo.
A medicina teve um grande número de ilustres praticantes e estudiosos. Garcia de Orta (1501/2-1568) ganhou nome na Europa com os Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, uma obra que foi traduzida para Latim, Italiano e Francês. Outros médicos como António Luís (?-1565), Amato Lusitano, Rodrigo de Castro (1546-1628), Luís de Lemos, Manuel Brudo, Filipe Montalto (?-1616), Rodrigo da Fonseca (?-1622), Francisco Sanches (1550-1622) e mais tarde Zacuto Lusitano (1575-1640) distinguiram-se e foram conhecidos em toda a Europa. Com a sua prática, ensinamentos e escritos, deram uma contribuição valiosa para a ciência médica do seu tempo. Pela ligação directa ou indirecta que tiveram com o judaísmo, muitos destes médicos viveram expatriados devido às perseguições movidas pela Inquisição, instituição de má memória estabelecida em Portugal, no ano de 1536, pelo próprio D. João III.
Como comentador da Física de Aristóteles distinguiu-se em Paris João Ribeiro em 1525, acabando por conseguir em 1527 a cátedra de Lógica na Universidade que estava sedeada nessa época em Lisboa. Na filosofia, sobressaiu o já referido Francisco Sanches que adquiriu toda a sua formação fora da Península em particular na Itália e em França. Autor de Quod nihil scitur (Que nada se sabe), Francisco Sanches foi o introdutor da dúvida como método e propedêutica da filosofia. Em lógica, física, cosmografia e ciências afins, brilhou Pedro Margalho (?-1556) em Salamanca, nos princípios do século XVI. Nas questões da navegação distinguiram-se vários matemáticos e outros homens com conhecimentos de matemática: o infante cardeal D. Henrique (1512-1580) e infante D. Luis (1506-1555), D. João de Castro (1500-1548) ─ todos eles alunos de Pedro Nunes ─ Frei Nicolau Coelho de Amaral (?-1568), João de Barros (1496?-1570), Martin Afonso de Sousa (1500-1571), Diogo Botelho Pereira, o Pe. António de Castelo Branco (1556-1643), Diogo de Sá e Fernando Alvares Seco, entre outros.
No século XVI, houve mais de cem professores portugueses a ensinar em universidades europeias, entre as quais se contam as de Salamanca, Paris, Roma, Pisa e Lovaina. A partir do último quartel do século XVI o panorama cultural português degradou-se bruscamente. Com a perda da independência, Portugal entrava definitivamente num período de decadência cultural, enquanto que, fora da Península, se iniciava uma nova fase do desenvolvimento das ciências matemáticas e naturais com o surgimento da ciência moderna. Protagonistas da transição entre a ciência antiga e a moderna, os portugueses não souberam ou não quiseram prosseguir na senda do progresso científico. Nos inúmeros escritos que se publicaram e nas muitas conferências que se proferiram entre nós, várias foram as causas apontadas para a decadência que ainda hoje nos condiciona. Passados quatro séculos, não foi possível recriar as condições para que Portugal se possa distinguir de novo entre as nações cultural e cientificamente mais desenvolvidas. As perspectivas de mudança continuam sombrias …
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