Os professores portugueses andam numa angústia crescente por causa do mau desempenho académico dos seus alunos. É que, mais tarde ou mais cedo, este será um parâmetro de avaliação dos próprios professores.
Em épocas em que não havia este perigo eminente, houve quem se preocupasse genuinamente em tentar perceber as causas desse insucesso. O médico escolar José de Paiva Boléo (1900-1976) publicou há 60 anos o texto de uma conferência sobre as “Causas do insucesso escolar” relativa ao ensino liceal, que tinha proferido na Liga Portuguesa de Profilaxia Social, no Clube dos Finianos, no Porto.
Nesta publicação, começa por apresentar as causas apontadas por “espíritos simplistas”:
Têm notas negativas porque os rapazes de hoje não estudam nada. São os desportos, o cinema, as leituras romanescas ou policiais, as diversões, tudo a afastar os rapazes do estudo. Os estudantes de hoje são cábulas, são preguiçosos.
E também as causas defendidas por “alguns mais pessimistas":
Há um abastardamento da raça, provocado pelas guerras e pela crise de alimentação, que têm a sua repercussão no estudo. Como hão-de estudar, se os rapazes são mal alimentados?
José da Paiva Boléo discordava sobretudo dos primeiros e comentava:
Alunos cábulas, alunos preguiçosos! Como é fácil este rótulo, mas injusto ou impreciso! Podemos até afirmar que, na nossa opinião, não há alunos preguiçosos.
Procurando encontrar as verdadeiras causas do insucesso escolar, Paiva Boléo começa por relatar algumas doenças físicas que detectara em grande número de estudantes (defeitos visuais não corrigidos, perturbações glandulares, infecções das mais variadas), doenças do espírito (prática de vícios sexuais, técnicas de estudo deficientes, alterações psicológicas) e muitas deficiências nas instalações escolares (iluminação deficiente, mobiliário inapropriado e desconfortável). Em sua opinião, estas situações eram causas mais que suficientes para um desempenho escolar insuficiente.
Detectou ainda outras causas tais como o mau ambiente familiar causado pelos pais ─ a obsessão pelo diploma dos filhos, o menosprezo pela educação séria, a tirania e a violência familiares ─ ou o facto de uma percentagem significativa de alunos “frequentar os liceus por engano”:
Os pais desejariam que eles fossem doutores; mas eles desejam ser comerciantes, industriais, técnicos, agricultores, artistas …
Paiva Boléo, reconhecendo não ser um especialista em programas de estudo, defende, no entanto, que o ensino deve ser menos intensivo e mais personalizado:
Em lugar de mais aulas, seria preferível turmas mais pequenas. O rendimento escolar seria muito maior. A redução das férias afigura-se-me mesmo uma medida antipedagógica.
Acha ainda que “a dispersão de espírito, o saltitar dum assunto para outro, o estudo a correr, apressado, de «chauffage», só para alcançar a menor nota possível, para passar, além de não ilustrar a inteligência e desenvolver as faculdades mentais, exerce sobre o psiquismo do aluno um traumatismo pernicioso”.
Depois de uma análise bastante minuciosa apresenta um conjunto de “Remédios contra o mal”: implementar um serviço eficaz de medicina escolar; incutir nos alunos meios de auto-suficiência e independência, bem como o espírito nórdico do fair-play, do humor e do self-control; e finalmente tentar cortar pela raiz “a aspiração máxima dos portugueses de serem empregados do Estado, para depois se queixarem, e com razão, do patrão que lhes paga mal”.
Nestes últimos 60 anos não foram eliminadas muitas das causas antigas do insucesso escolar. Às causas herdadas do passado vieram juntar-se mais, com não menos importância que as primeiras. Nem umas nem outras parecem ter fim à vista, e a educação dos portugueses em vez de progredir parece regredir continuadamente, hoje tal como há 60 anos! ... A este ritmo não tardará que atinjamos o nível da educação do homem das cavernas, com a diferença de estarmos rodeados de equipamentos informáticos e de multimédia …
Em épocas em que não havia este perigo eminente, houve quem se preocupasse genuinamente em tentar perceber as causas desse insucesso. O médico escolar José de Paiva Boléo (1900-1976) publicou há 60 anos o texto de uma conferência sobre as “Causas do insucesso escolar” relativa ao ensino liceal, que tinha proferido na Liga Portuguesa de Profilaxia Social, no Clube dos Finianos, no Porto.
Nesta publicação, começa por apresentar as causas apontadas por “espíritos simplistas”:
Têm notas negativas porque os rapazes de hoje não estudam nada. São os desportos, o cinema, as leituras romanescas ou policiais, as diversões, tudo a afastar os rapazes do estudo. Os estudantes de hoje são cábulas, são preguiçosos.
E também as causas defendidas por “alguns mais pessimistas":
Há um abastardamento da raça, provocado pelas guerras e pela crise de alimentação, que têm a sua repercussão no estudo. Como hão-de estudar, se os rapazes são mal alimentados?
José da Paiva Boléo discordava sobretudo dos primeiros e comentava:
Alunos cábulas, alunos preguiçosos! Como é fácil este rótulo, mas injusto ou impreciso! Podemos até afirmar que, na nossa opinião, não há alunos preguiçosos.
Procurando encontrar as verdadeiras causas do insucesso escolar, Paiva Boléo começa por relatar algumas doenças físicas que detectara em grande número de estudantes (defeitos visuais não corrigidos, perturbações glandulares, infecções das mais variadas), doenças do espírito (prática de vícios sexuais, técnicas de estudo deficientes, alterações psicológicas) e muitas deficiências nas instalações escolares (iluminação deficiente, mobiliário inapropriado e desconfortável). Em sua opinião, estas situações eram causas mais que suficientes para um desempenho escolar insuficiente.
Detectou ainda outras causas tais como o mau ambiente familiar causado pelos pais ─ a obsessão pelo diploma dos filhos, o menosprezo pela educação séria, a tirania e a violência familiares ─ ou o facto de uma percentagem significativa de alunos “frequentar os liceus por engano”:
Os pais desejariam que eles fossem doutores; mas eles desejam ser comerciantes, industriais, técnicos, agricultores, artistas …
Paiva Boléo, reconhecendo não ser um especialista em programas de estudo, defende, no entanto, que o ensino deve ser menos intensivo e mais personalizado:
Em lugar de mais aulas, seria preferível turmas mais pequenas. O rendimento escolar seria muito maior. A redução das férias afigura-se-me mesmo uma medida antipedagógica.
Acha ainda que “a dispersão de espírito, o saltitar dum assunto para outro, o estudo a correr, apressado, de «chauffage», só para alcançar a menor nota possível, para passar, além de não ilustrar a inteligência e desenvolver as faculdades mentais, exerce sobre o psiquismo do aluno um traumatismo pernicioso”.
Depois de uma análise bastante minuciosa apresenta um conjunto de “Remédios contra o mal”: implementar um serviço eficaz de medicina escolar; incutir nos alunos meios de auto-suficiência e independência, bem como o espírito nórdico do fair-play, do humor e do self-control; e finalmente tentar cortar pela raiz “a aspiração máxima dos portugueses de serem empregados do Estado, para depois se queixarem, e com razão, do patrão que lhes paga mal”.
Nestes últimos 60 anos não foram eliminadas muitas das causas antigas do insucesso escolar. Às causas herdadas do passado vieram juntar-se mais, com não menos importância que as primeiras. Nem umas nem outras parecem ter fim à vista, e a educação dos portugueses em vez de progredir parece regredir continuadamente, hoje tal como há 60 anos! ... A este ritmo não tardará que atinjamos o nível da educação do homem das cavernas, com a diferença de estarmos rodeados de equipamentos informáticos e de multimédia …
2 comments:
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intiresno muito, obrigado
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