No início da 2ª Revolução Industrial ocorrida no século XIX, as máquinas causaram apreensões, receios e medos, porque se pensou que viriam substituir definitivamente o trabalho do homem, provocando desemprego, fome e perturbações sociais. Alguns episódios ocorridos em países apostados numa industrialização acelerada justificaram parcialmente esses receios. Nessa época, mais do que a ciência o que se temeu foi a tecnologia.
No final da 1ª Guerra Mundial, a utilização dos gases asfixiantes, inventados por Fritz Haber, causaram grandes baixas tanto nas hostes do inimigo como nos próprios exércitos que as lançavam, e tão generalizada e indiscriminada foi a mortandade que ficaram conhecidos como os “gases de morte”. A culpa desta calamidade foi atribuída não aos chefes militares que os utilizaram mas à Química.
“Os carrinhos de Curie”, equipados com máquinas de raios X e colocados em funcionamento pelos esforços de Marie Curie, contribuíram em França para o diagnóstico de mais de um milhão de feridos de guerra. Apesar disso, tiveram muito menor impacto perante a opinião pública do que os gases de morte e o papel da Física, nesta acção humanitária de Marie Curie, não foi suficientemente valorizado. Nessa época, tal como hoje acontece, as aplicações benéficas da ciência tiveram, sobre a opinião pública, um impacto muito menor do que as aplicações maléficas.
Após a 2ª Guerra Mundial, uma enorme desconfiança recaiu sobre a Ciência, na sequência do lançamento das bombas atómicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Em 6 de Agosto de 1945 foi lançada sobre Hiroshima a primeira bomba, chamada “Little Boy”; a segunda, “Fat Man”, foi lançada a 9 de Agosto sobre Nagasaki. Contabilizaram-se em 140 mil as vítimas em Hiroshima até Dezembro de 1945; as vítimas imediatas de Nagasaki atingiram o número de 39 mil, as vítimas posteriores causadas pelas radiações contabilizaram-se em 75 mil. Segundo cálculos recentes as vítimas destas duas bombas atingiriam o número total de 300 mil.
Logo após o período de regozijo pelo fim da guerra em que se fez muita propaganda a favor do nuclear, muitos pensaram que a Física era a principal responsável pela matança. Opinava-se que o desenvolvimento da Física tinha ido longe demais e que esta ciência começava a pôr em causa o equilíbrio das nações e a contribuir para o fim iminente da própria civilização humana. Tal era o descrédito que rodeou a Física, e a Ciência em geral, que muitos proclamavam, em face dos perigos da destruição global, que se deveria fazer uma pausa na investigação científica e refrear a marcha acelerada das descobertas e invenções!...
Não se conseguiu concretizar este objectivo, mas esta atmosfera conseguiu criar alguma animosidade contra a investigação científica, sobretudo aquela que tinha objectivos militares directos. Mesmo em países, onde sempre se dera uma menor importância a estas questões, se intensificou o movimento anti-militarista na sociedade civil e comunidade científica. Actualmente, há mais de 2 mil cientistas espanhóis que se consideram objectores científicos negando-se a participar em projectos militares. Estes cientistas têm pressionado o governo espanhol para fazer uma transferência gradual de recursos destinados à investigação e desenvolvimento militares para as áreas de desenvolvimento civil e social.
Em alguns meios mais bem informados, surgiu recentemente uma forte reacção contra a ciência biológica na sequência dos progressos realizados pela engenharia genética, que aliás já tinham sido previstos, entre nós, há mais de 50 anos. Nessa altura a perspectiva de tais estudos eram encarados com bastante optimismo prevendo-se que as novas descobertas pudessem dar à vida uma maior dignidade. Assim se exprimia José Antunes Serra, investigador no Centro de Estudos de Ciências Biológicas da Universidade de Coimbra, em 1957:
Numa outra etapa virá a revolução biológica, em que se modificará a própria natureza dos seres vivos, incluindo a nossa, tornando a vida verdadeiramente digna de ser vivida.
Em defesa da ciência e contra os maus usos que dela se faz, erguem-se continuamente as vozes de muitos cientistas, esforçando-se por transmitir a mensagem de que não é pela desaceleração do desenvolvimento científico que se evita a má utilização da ciência. Porém, apesar de todos estes esforços, algumas franjas da opinião pública continuam a alimentar a ideia de que a ciência pode levar à extinção da civilização humana e portanto deve ser condicionada no seu pleno desenvolvimento.
Quem faz estas críticas não deve esquecer-se que à Ciência se deve o elevado grau civilizacional atingido pelo Homem e que só o desenvolvimento científico poderá criar melhores condições de vida para todos. Se nem todos usufruem desses benefícios a culpa não é certamente da Ciência.
Thursday, February 1, 2007
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